Por Profa Ms Silvana Rocha é docente da disciplina parasitologia e atua como pesquisadora na área de Meio Ambiente e Saúde da Universidade Católica de Santos. Também atua no Laboratório Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Santos, onde monitora balneabilidade e a qualidade sanitária da areia das praias do município de Santos.
Amo animais, e......boa parte de minha vida tive a companhia de um excelente amigo, um cão. Na verdade, um animal muito inteligente, que consegue entender cerca de 160 palavras, e lê aproximadamente 90% de nossa expressão corporal e facial. Esse fantástico animal ama incondicionalmente, pois interage com você, e compreende sua reação num pequeno gesto, olhar ou expressão do seu rosto. São animais sentimentais, sente solidão, ciúmes, felicidades, e precisam ser cuidados com amor. Boa alimentação, exercícios, banhos e visitas periódicas ao veterinário fazem parte da boa saúde do animal. Eles são muito vulneráveis a inúmeras doenças, especialmente verminoses que afetam o trato gastrintestinal e outros órgãos causando danos à sua saúde e do homem, pois podem inclusive transmitir importantes zoonoses.
O convívio do homem com cães não se limita a uma situação de coabitarão familiar. Estes animais frequentam também áreas públicas de lazer destinadas à população humana e, com frequência, eliminam seus dejetos nestes locais. Fezes de animais parasitados, depositadas no ambiente podem tornar o solo uma fonte de infecção contaminando-os com estruturas parasitarias infectantes, que aí evoluem.
Um animal parasitado pode manifestar apetite inconstante, abdômen abaulado, vômitos, cólicas, fezes amolecidas com sangue, eliminação de vermes nas fezes ou pelo vômito, emagrecimento, pêlos arrepiados, prurido anal (animal arrasta o¨bumbum¨no chão), irritabilidade, e alguns sintomas neurológicos como ataques convulsivos, que podem causar óbito.
Santos é uma cidade onde se observa uma crescente e numerosa população canina que circula livremente pelas ruas, animais errantes ou aqueles que são levados a passeio por seus próprios tratadores. Esses animais podem ter acesso a local de recreação pública, e, ao realizar seus hábitos naturais de defecação contaminam o solo. Essa contaminação, tem se tornado importante problema de Saúde Pública, especialmente nas regiões tropicais e subtropicais de países em desenvolvimento.
O solo arenoso constitui importante foco de infecção humana por parasitos, devido a sua característica geológica, sendo formado por partículas de areia com diâmetros que variam de 0,02 e 2 mm, e tem a capacidade de reter água nos ângulos e espaços da estrutura porosa do solo. Os estádios larvários dos helmintos são eminentemente aquáticos, sendo essencial para sua sobrevivência, à umidade elevada do solo. Além disso, o regime de chuvas, o grau de evaporação e a insolação a que o solo infectado está exposto, têm marcada influencia tanto na embrionia de ovos, como na viabilidade e evolução dos estádios larvários. Chuvas frequentes e bem distribuídas durante os meses do ano, locais abrigados de insolação direta e protegidos de intensa evaporação, oferecem condições ideais. As temperaturas ótimas para o desenvolvimento das estruturas parasitárias no solo estão em torno de 23 e 30°C, podendo suportar até 40°C, e nas temperaturas inferiores a 17°C tornam a evolução mais lenta, que são interrompidas abaixo de 10°C.
 |
Figura 1 por Floriano, AP. Laboratório de Parasitologia |
Diversos estudos vêm demonstrando a importância da disseminação de doenças pelo solo arenoso de praias, balneários ou praças públicas, e direciona o problema a doenças como a Síndrome de Larva Migrans Cutânea, popularmente conhecida como “bicho geográfico”, causado por larvas do Ancylostoma spp, que penetram pela pele e cavam túneis entre a derme e a epiderme provocando uma reação inflamatória, com prurido e ardência no local. Além disso, a ingestão acidental de ovos larvados do Toxocara canis (figura 1), pode provocar a Síndrome Larva Migrans Visceral causada por larvas deste parasito que pode se alojar nos olhos, fígado, pulmões ou no sistema nervoso central, provocando a formação de um “granuloma alérgico”.
Convém salientar que os cães estão muito mais vulneráveis a adquirir uma doença parasitária ao contato com esse meio ambiente infestado, pois são seus hospedeiros naturais, e a estrutura infectante parasitária encontra maior facilidade na invasão, pois o organismo humano manifesta estímulos bioquímicos diferenciados, dificultando a fase inicial de sua evolução.
A frequência que devem ser vermifugados nossos cães vai depender da idade do animal, assim sendo, atenção: Filhotes durante a amamentação e após o desmame, Jovens a cada três meses, Adultos em intervalos de três a seis meses, Fêmeas adultas antes do cruzamento e dez dias antes do parto.
Algumas medidas profiláticas devem ser tomadas além da vermifugação, como: recolher as fezes do seu animal, o uso frequente de desinfetante no quintal, ou na caixinha de areia, para eliminar os ovos e vermes que permanecem no ambiente. Higiene dos comedouros e bebedouros diariamente.
No caso de infestações pelo Dipylidium caninum é necessário um controle concomitante das pulgas, pois elas que transmitem o parasito para outros animais ou mesmo para o homem.
Praia não é lugar de cachorro, a característica do solo arenoso é prejudicial à pele desses animais, causando prurido e graves irritações.